domingo, novembro 07, 2004

Saturday Sex Fever ( II )

Despertou-me curiosidade um programa propagandeado massivamente e apresentado ontem na Sic, “O terceiro sexo”.
A figura de proa, Roberta Close, deslocou-se prepositadamente a Portugal para discutir o transexualismo com um naipe de convidados.
Embora me intrigasse o contexto avulso na grelha deste programa ( há entretenimento gratuito a mais! ), lá espreitei.

De resto, os assuntos potencialmente polémicos interessam-me, sobretudo quando vejo reunidas condições mediáticas para alterar mentalidades e provocar maior abertura na consciencialização das massas.
Quando vi apareçer o José Figueiras como anfitrião, desconfiei logo.

Quando surgiu o Cláudio Ramos como seu parner, achei por bem dedicar-me a outros afazeres sem no entanto perder de vista o ( julgava eu! ) debate.
Meia hora depois, confesso que desisti.
Pus o restante a gravar, dando-lhe o benefício da dúvida, não fosse estar errado na minha primeira impressão .
...
Não estava.

Acabo de assitir á posta restante. À bosta, melhor.
A barbérie que se seguiu é inenarrável.
Os convidados incluiem, entre outros, o artista sociológo Toy, o retro fadista José da Camara Pereira, o psicólogo da “Máxima” Nuno Nodim, um padre porreiro e dois travecas reformados.
O Figueiras continua o eterno "buéda jovem", o Ramos igual a si próprio e a Roberta diz exatamente aquilo (e no mesmo tom) que dizia 20 anos atrás no Brasil. Pelo meio da conversa "muitaa lôca", há actuações:

um numero de cabaret dos irmãos Feist apoiado em Brecht, o clássico hino de Glória Gaynor em versão espanhola - "Soy o que soy" - e uma debutante sofrida que trauteia o “Beautiful” da Aguilera.
O interlúdio é fornecido por meia dúzia de "chicas" que, antes dos intervalos, alternam e bailam ao som da “Erotica" Madonna numa remix marada.
O debate revela-se programa de variedades de fino gabarito!
Como do terceiro sexo á homosexualidade, pelos vistos, é um saltinho, o painel de intervenientes é engrossado com um jovem trolha Bisexual, com namorada em Lisboa e namorado no Porto ( ama este último, mas também curte a moça! ), uma funga de óculos escuros que lamenta as dificuldades de aceitação e um respeitável senhor de quarenta e poucos anos, bem posto na vida, com esposa e filhos, que teve o infortúnio de descobrir os prazeres do mesmo sexo. Trocou, segundo o próprio,“o peixe pela carne”.
Há ainda uma filha em estúdio que fala emocionada, em directo e via telefone, com uma mãe ausente. Chora desalmada, tal qual "Ponto de encontro".

Abre a participação ao público.
Como a palhaçiçe passa a ser interactiva, ainda penso em intervir, levantando questões. Contúdo, a dinâmica do circo é de tal ordem e ausência de seriedade é tanta que temo não granjear o mínimo de credibilidade.
Mais tarde, venho a dar-me razão!
O retorno do público traduziu-se em 90% de E-mails para o Toy ( uma fã pergunta-lhe se já “tinha ido com homens” ) e dois ouvintes que querem saber se o prazer é igual com “gajos e gajas”. Pouco mais!
Respostas, não as há, por entre sorrisos e deserções.

Entretanto esgota-se o tempo deste Big Show.
Resta ainda uma surpresa, prometida desde o incío por Figueiras:
o grande final desta "órgia" mediática surge sob a forma de um número de amor lésbico. Duas senhoras de Leste trocam beijos e roçam-se lascivamente. Acabam humedeçidas no chão, esfregando-se para deleite da assistência num rebuliço tal que faria corar as “Girls on Film” dos Duran Duran...
( Por momentos, ainda pensei que a Sabrina, a Dolly Parton e a Samantha Fox viessem ajudar á festa, mas nada! )
No final de contas, ninguém percebeu que raio era o terceiro sexo.
Nem eu próprio.
Mas percebi claramente que não era isso que interessava.

Nunca foi!
...
Os esclareçidos são cada vez mais incómodos.

O que fazia falta era entreter a malta, ganhando pontos de Share a reboque da polémica ambiguidade sexual do "Conde"da concorrência!
Nesta matéria, já por si confusa, interessava (como, de resto em todas as outras) eluçidar. O que se faz (e o que vi esta noite) é exatamente o contrário: instiga-se a confusão, lança-se lenha para a fogueira e enquanto arder, "tá-se bem"! Os quintais vizinhos que se lixem com o fogaréu, porque os danos colaterais ou a médio prazo são irrelevantes.
Há pouco tempo, o filho de uma amiga perguntou-lhe, apontando para o televisor, quem era"aquela senhora que pareçia um homem". A mãe ficou encavacada e sem resposta. A Marta tem 32 anos mas não conseguiu elucidar o Bruno, de 4, sobre quem ou o que era José Castelo Branco.
Alguém ousaria explicar a um miúdo o que é um Metrosexual?
...
Entristeçe-me a ignorância fomentada por entretenimento barato e inócuo.
Lamento a falta de tomates e ausência de fome de conhecimento da maioria asséptica e determinante.
Espanta-me o papel dos Media, qual kenga merceeira e volátil, á boleia dos outros, refém de interesses e conglomerados obscuros.

Assusta-me a incultura destes tempos.
E revolta-me que se forniquem impunemente conteúdos ao desbarato.
Dá-me vontade de...
Dasssss!

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