quinta-feira, março 24, 2005

Sexo em saldos

A crise económica que afecta o país chegou às casas de alterne, sobretudo as que se situam fora dos grandes centros urbanos.

A quebra de clientela obrigou alguns bares a diminuir os dias semanais de funcionamento, limitando-se a abrir de quinta a domingo, e outros a solicitarem às suas "funcionárias" a baixa do preço dos "serviços", a fim de atraírem mais clientela.

"Estes dias até avançámos com uma promoção para os clientes da nossa confiança, que passava pela diminuição do tempo de permanência no privado de meia hora para 20 minutos, com o correspondente abaixamento do preço, de 35 para 25 euros, mas a afluência só foi significativa nos primeiros dias”, disse hoje o gerente de uma das mais conhecidas casas de alterne do Minho.
Em tom irónico, acrescentou que qualquer dia vai “avançar com uma época de saldos, como no pronto-a-vestir, ou então com campanhas do tipo das que se fazem nos detergentes: leve duas e pague uma”.
Este "comerciante da noite", com mais de 15 anos de experiência, diz que “a crise toca a todos e, como se sabe, quando é preciso cortar começa-se pelo acessório, onde se inclui, naturalmente, o divertimento”.
Referindo que, “as casas que tiverem qualidade, ganham para viver”, o empresário diz ainda que, há três ou quatro anos, as casas estavam sempre à pinha. “Muitas vezes tínhamos de mandar clientes embora. Agora não há nada disso. Este ano, aliás, ainda não tive uma noite de casa cheia.”
Sublinhando que a falta de dinheiro é a primeira razão pela diminuição de clientes nos últimos tempos, o interlocutor, que já esteve preso uns meses por prática de lenocínio e auxílio à emigração ilegal, referiu também o intensificar das rusgas policiais, por parte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), como um dos grandes problemas do "negócio". “É que, além das raparigas, estrangeiras ou não, os polícias identificam toda a gente no bar e há pessoas que não estão para isso.” E a verdade é que, nos últimos meses, o SEF tem vindo a apertar o cerco aos bares de alterne e prostituição existentes no País – que se calcula serem cerca de 850 – na tentativa de travar o fluxo de mão-de-obra ilegal do Brasil, de África e dos países de Leste.
No entanto, apesar da diminuição de clientes e do intensificar das acções policiais, em dois anos, só no distrito de Braga, o número de casas de alterne referenciadas pelas autoridades cresceu mais de dez por cento – passou de 78 em meados de 2003 para 91 em finais de Fevereiro deste ano.
No entanto, segundo diz uma profissional, “isto está pior do que nunca”.
Afirma isto enquanto espera pelo táxi que irá levá-la a casa, cerca das 06h30, depois de uma noite de trabalho. Melhor, depois de uma noite quase em vão, à espera de trabalho.
“Há dois anos, a esta hora, tinha 200 a 300 euros no bolso; hoje tenho 35. Isto foi chão que deu uvas. A gente não parava e os clientes pagavam bebidas a toda a hora. Agora, passamos o tempo sentadas e quando alguém aparece temos de suplicar muito pelo pagamento de um copo. Qualquer dia desisto”.

Apesar da crise, a tabela do alterne ainda é de se lhe tirar o chapéu. Numa casa normal, sem grandes luxos, um ‘cocktail’ para oferecer à bailarina custa 25 euros; uma garrafa de espumante chega aos 75; O ‘table dance’ de duas músicas vale 40 euros e o privado ascende aos 100 euros.


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