quarta-feira, julho 19, 2006
Don´t worry, be happy
Quando se tenta diversificar e sair do círculo normal, o resultado é sempre surpreendente.
Ontem, compromissos profissionais levaram-me á marina de Cascais para a apresentação do terceiro Portugal Match Cup, uma das maiores competições de vela organizada cá pelo burgo.
Um cocktail cerimonioso, repleto de navegadores estrangeiros de bronze invejável, de chinelos, que comunhavam alegremente com tios e tias, de fato e de tez semelhante. Discursavam num Inglês mal amanhado depois um repasto com a fina charcutaria do “Lid´l”. Os canapés de queijo Filadélfia á descrição e os empregados, mestres exímios no equlibrar das bandejas de chocolatinhos perante o degladio alarvo do colectivo, foram reis do evento. Adrianha Calcanhoto, Daddy Yankee, João Pedro Pais e Black Eyed Peas foram a música de fundo.
Cheguei atrasado, mas uma hora bastou para picar o ponto e bater em retirada. Siga a marinha.
Sem jantar e após um Catering sofrívell, seguiu-se uma paragem em Belém para reforçar o estômago.
Depois disso, um pulo até uma das prestigiadas esplanadas das Docas para matar a sede. A miserável sangria de champanhe (ou melhor, de gasosa, açúcar e maçã) não augurou nada de bom. O ensurdecedor barulho de um Karaoke longínquo, onde um berreiro infernal trucidava o “Bohemian Rapsody”, também não.
Dito e feito.
Vindas do nada, duas damas da vida, como o ar mais bardajento possível, decidem “abancar” na mesa ao lado e irromper pelo meio da conversa. Cravam cigarros, pedem lume, pedras de gelo, sugerem boleias, insinuam-se, mostram o naco enquanto amaldiçoam o calor.
Ás tantas, pedem duas imperiais que, a alto e bom som, dizem vir a "ser oferecidas (aqui) pelo jovem".
O incómodo e o caricato prolongam-se mais uns quinze minutos enquanto se revezam em sucessivas idas á casa-de-banho. Farto do número, saio da esplanada e dirigo-me ao balcão para pagar.
A bizarria seguinte é ainda mais surreal:
- Paga tudo?, pergunta o empregado.
- Como? , respondo.
- Paga as duas imperiais das senhoras, não é?
- Não, pago o que bebi, pago a sangria...
- Mas as senhoras disseram que o senhor pagava as cervejas.
- Pois, isso não sei. Mas... espere lá, vôcê registou a despesa delas na minha?
- Mas as senhoras disseram ....
E aí vamos nós.
Pedem-me que aguarde enquanto o empregado vai lá fora conferenciar com as senhoras que continuam, claro, de pernil ao léu a mamar as bejecas. De regresso, diz-me que "temos um problema! As senhoras dizem que não têm dinheiro". Arregalo as órbitas. Surge o gerente que, de sorriso nos lábios, tenta perceber a situação. Enquanto conversa com o empregado, tira-me as medidas de alto a baixo. Permaneço de nota na mão, em haste, à espera a aceitem.
Já visivelmente irritado, pergunto se “o Bar é algum franchising do Intendente”.
Baixam a crista. Chega uma das damas que acaba por me cravar um "Eurico" para pagar as cervejas enquanto se desculpa pela colega que, no exterior, clama aos berros que "não há guito, fico a lavar pratos. Se quiserem, chamem a bófia !!!".
Enfim, lá consegui regressar a casa enquanto, retroactivamente, tentei digerir a noite.
Ainda no passado sábado, também em Cascais, dei por mim noutra “Baía”, encafoada no bar/discoteca de música brasileira que - garantiam-me - "é o que está a dar".
Por entre o “amor de Julieta e Romeu” da Daniela Mercury e a “poeira” da banda Eva (não consegui identificar mais nada!), a galera lá rebolava, feliz e frenética. As emoções atingiram o rubro quando, mais á frente, a actuação de um duo sertanejo fez explodir as hostes. Sabendo não estar no meu meio, não tive outro remédio senão relativizar a coisa.
Depois deste regresso ontem ao melhor da “linha”, só espero é que não me peçam para justificar novamente “porque é que só ando pelo Bairro”.