segunda-feira, setembro 18, 2006

The new Oldies

Tu esqueces-te que não estás em Londres! ...”, remataram-me sabiamente na noite de sábado perante a indiferença do público a algumas músicas que tocava.
Eram temas novos, é certo, mas sempre funcionei por antecipação, força de afazeres profissionais e sobretudo por prazer pessoal. É pois natural o meu desfazamento face ao "grande público", como é igualmente natural que “teste” alguns temas nestas ocasiões.
Não funciono para o “umbigo”, nem mesmo aqui até porque não é (não deveria ser) possível: o feedback é imediato.
Aquando destas prestações, há algumas regras importantes que tenho em conta: o tipo de clientes e de casa, o dia, a hora e, sobretudo, os dois “tempos” da noite: a altura em que o público quer "dar" e a outra em que apenas quer "receber". Pode parecer complicado mas, intuitivamente, funciona.
Voltando á música, lembro-me de, há uns tempos atrás, estar já saturado do “Hung up” e de o ter de passarpor só então o estavam a descobrir. O mesmo aconteceu com o “Confortably numb”, com o “Slow” e com outros tantos temas.
Desde há uns tempos a esta parte, a confusão originada pela flutuação de públicos nos locais noctívagos é tal que se torna impossível estabelecer critérios. Quem gosta dos Pixies, de repente também baila com a Kylie Minogue e quem é fã do Herbert, também gravita em torno dos Strokes, da Beyonce e por aí fora.
Ilhas musicais á parte, a questão é outra: tal como acontece nas rádios lusas - aversas a novidades, a noite dos grandes centros urbanos não só se encontra na mesma, como está viciada em sequências clonados de sítio para sítio (é fácil identificar 3 ou 4 temas que se podem ouvir em 10 ou 20 espaços distintos na mesma noite).
Mesmo que se mude de poiso, a música é, pois, quase sempre igual, acabando invariavelmente por descaracterizar o espaços e não fidelizar a clientela, cada vez mais nómada.
Na noite de sábado, com uma mão cheia de discos novos, o entusiasmo voltou a esbarrar na indiferença de um séquito que teima em reagir apenas áquilo que já conhece.
Nestas alturas, quando os resultados não são os pretendidos, nada como um desbloqueador consensual. Ou seja, recuar até aos anos 80.
Basta um qualquer “Girls on film”, “Karma chameleon” ou “Tainted love” para levar uma casa ao rubro. Mas atenção: se mesmo dentro do vasto reportório dos "Eighties" for disparado um qualquer tema que não tenha sido massificado até á exaustão, a reacção é semelhante á de um tema nova, ou seja, nula.
Testei "In Loco" o “Ride on time”, dos Black Box que, para meu espanto, funcionou.
Já “Let the music play” e “Never again” passaram ao lado. Ninguém conheçe os Classic Noveaux e mesmo os Talk Talk só sobrevivem ainda á custa dos No Doubt.
Nem mesmo alguns singles mais recentes como o “Rude box”, que fazem actualmente furor na Europa, conseguem arrancar uma reacção da parte de quem dança. Este último lá passou atrelado a “Last night a DJ saved my life” “mas quando de seguida surge “Wanna be your lover” dos LaBionda, a desgraça não se faz esperar e os piores temores confirmam-se: ninguém conheçe.
Esta recente necessidade de, ao momento, adequar (e alterar) os Sets de um Disc Jockey por causa de um público que muda instantaneamente (e que clama invariavelmente por uma “oitentada”) não mata, mas acaba por moer.
Assim, também á noite, apostar em música nova é cada vez mais improdutivo, a não ser que se tenha á mão um “Tarzan boy” para, logo de seguida, redimir prontamente a heresia anterior.
É excusado, pois, forçar alguns projectos interessantes da actualidade como os Hot Chip, os Fish Go Deep ou o Mocky, entre outros.
Talvez daqui a uns tempos.

Resta apenas saber se a vontade, que actualmente já não é muita, ainda persiste.

Comments:
o público nunca é fácil, é descobrires uma maneira de o educares, aliás parece-me que já descobriste uma forma de lá chegares, é só continuares a insistir!
 
entendo bem o que dizes. há alturas em que desespero pois se por um lado gosto de ver o povo aos saltos também não me satisfaz entrar pelo fácil, óbvio e imediato...tenho q te ir ver e dançar*
 
E bailavas a noite toda, não dúvides.
;)
Não sou muitos dado a facilitismos, embora não também não tenha espírito messiânico pelo que, apesar de já conhecer a "fórmula" da "Happy night" de trás para a frente, evito sempre escudar-me a ela.
De qualquer forma, obrigado pelas palavras.
Bjs.
 
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