quinta-feira, setembro 06, 2007

A pequenada moderna sem heróis (ou o Far West infantil para deleite dos graúdos)

"Os pais das crianças norte-americanas que participaram no polémico e ainda não estreado reality show kid Nation, da cadeia de televisão CBS, assinaram contratos em que concordaram que os seus filhos deviam obedecer a tudo o que a produção do programa lhes dissesse durante as gravações, sob pena de expulsão, e que atribuem à CBS os direitos sobre as histórias dos 40 miúdos "de forma perpétua e em todo o universo".
O conteúdo do contrato estabelecido com os pais das crianças com idades entre os 8 e os 15 anos, que durante 40 dias habitaram uma cidade fantasma no Novo México para criarem uma sociedade sem adultos (apenas com elementos da produção presentes), foi revelado ao New York Times. As crianças estão, ao contrário do que dizia a CBS, sujeitas a expulsão e foram tratadas como se de adultos se tratassem.
No contrato de 22 páginas, a CBS protege-se legalmente das limitações ao trabalho infantil, estipulando que as crianças podem ser pagas pela sua participação, mas que tal não constitui um ordenado. São também utilizadas fórmulas legais já comuns na reality-tv em que os participantes (e, neste caso, os seus pais) assumem a responsabilidade por quaisquer danos ocorridos durante as gravações, desde ferimentos a acidentes devidos a más condições de alojamento, parca assistência médica, até à morte.
Também se lê no documento que pais e menores assumem total responsabilidade por quaisquer doenças psicológicas ou físicas contraídas durante o programa, especificando mesmo que tal abrange "doenças sexualmente transmissíveis, HIV e gravidez".
Quanto à possibilidade de falarem sobre a experiência, a CBS tem de dar o seu aval a qualquer entrevista ou iniciativa dos pais ou miúdos até que o programa termine - independentemente do número de temporadas que tenha. O contrato também dá à estação os direitos eternos sobre as histórias da vida de cada um dos protagonistas, que podem ser contadas fielmente ou embelezadas para "fins humorísticos ou satíricos".
A violação destas regras custa a cada família 3,6 milhões de euros e cada criança receberá 3600 euros por participar, mas o dinheiro só chegará no final de cada temporada. Se uma criança deixar o programa, continua a estar sob a alçada do contrato, mas não recebe os 3600 euros. E se os pais ou ela falarem sem permissão durante esse período, o mais certo é ficarem sem o pagamento.
As críticas contra Kid Nation, que arranca a 19 de Setembro nos EUA, aumentaram quando, na semana passada, foi noticiado que um dos participantes no programa bebeu lixívia guardada por engano numa garrafa de água e que outras crianças sofreram pequenos acidentes, como queimaduras quando cozinhavam.
A CBS autorizou algumas entrevistas com pais de participantes na semana passada, que expressaram a sua satisfação com as condições das gravações. Um pai queixou-se da falta de condições na cidade fantasma, mas a CBS não autorizou que o Times falasse com o queixoso. Segundo a estação, "a série foi filmada de forma responsável", os ferimentos "foram tratados imediatamente por profissionais" e as queixas "distorcem a verdadeira imagem da experiência de Kid Nation".
A ideia da CBS é desbravar terreno no campo da reality-tv, procurando protagonistas mais espontâneos e menos preparados para este tipo de programas. Além das questões éticas, a possibilidade de terem sido violadas leis de trabalho infantil e de alojamento de crianças no Novo México foram outras dúvidas colocadas pelos críticos do programa, que ainda estão a ser analisadas".

(Público)

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