sexta-feira, outubro 19, 2007

Meine liebe ... (II)

Ora pegando no texto de baixo, a Alemanha foi terra fértil em oitentadas: desde uns Kraftwerk ou Propaganda (menos acessíveis ao grande público), ás lamechices do Nino D´Angelo, passando pela Pop porreira do Peter Schiling, do Falco e dos Freur e Muncheneir Freiheit, á esquizofrania da Nina Hagen ou a clássicos instantâneos como “Da da da”, havia de tudo um pouco. Mas, por muito que estes nossos amigos nos oferecessem, nada (mas nada!) superava (ou superou)…Nena.
Nena (ooohh!) era o terror dos pais: as mães iam aos arames com o padrão do papel de parede lá de casa a ser religiosamente violado por um poster da diva e os pais olhavam com descrédito para as sebentas cujas capas exibiam o semblante do poderoso ser em toda a sua pujança. As professoras também não gostavam da Nena: as baldas, faltas de TPC´s e expulsões das salas de aulas acumulavam-se à custa de tanto desnorte em torno da divindade.
A derradeira gota de água chegou sob a forma de um poster (coisa bíblica de um metro e oitenta) que vinha todas as semanas, por partes, na única coisa que se lia na época: a "Bravo", revista pop alemã (yep!) e cartilha da mocidade. Mensalmente, também havia a "Popcorn". Tinha mais posters, era mais cara mas comprava-se na mesma. As raparigas lá andavam entretidas com a “Coquete" e a “Miúda” e nós esfregávamos o olho e líamos isto (quer dizer, ler não se lia: via-se, porque nada do que lá vinha era perceptível).
Quando a Nena, no alto do seu metro e oitenta, foi apresentada aos progenitores e ao papel de parede lá de casa, … bem, digamos que, da puberdade, houve quase um salto para a idade adulta.
Há coisa de dois anos, a Nena, agora mãe, ainda tentou regressar ao estrelato a meias com a inglesa Kim Wilde. Juntaram ambas a fome e a vontade de comer e regravaram um dos êxitos germânicos do segundo álbum da cantora. “Irgendwie, irgendwo, irgenwann” foi assim traduzido à letra e convertido internacionalmente em “Anyplace, anytime, anywhere”, uma barbárie auditiva e um atentado à memória visual de quem, ainda hoje, olha ternamente para os manuais escolares forrados a Nena.
Se não fosse público na época que a mulher andava enrolada com o baixista Rolf, decerto que teria continuado a alimentar a esperança de ir apanhar balões para a Alemanha. Quiçá, a minha vida não tivesse sido outra... Mas não. Fiquei por cá a apanhar os balões da Manuela Bravo e da revista "Bravo", rapidamente passei para outra, a "Smash Hits". A colonização inglesa viria a revelar-se a minha desgraça. Mas essas são outras histórias…
Aqui fica pois a majestosa Nena, em toda a sua plenitude: um impressionante monumento aos oitenta e o retrato fiel de uma época de ouro para as papelarias e de ódio vigoroso para os encarregados de educação.
(rapariga, tu vê lá:
olha que se for preciso, ainda vou aí apanhar uns figos!)


Comments:
epá, um gajo assim até se sente velhote... mas cheio de pica! LOLOL
do que tu te lembraste. minha rica nina, que até o pêlo no sovaco se deixava passar.
 
É verdade. :)
Tinha um aranhiço jeitoso.
Ela e o gajo do "Countdown", um Nino qualquer coisa...
Eram tipos riquíssimos.
 
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